Os jogos tradicionais indígenas são atividades corporais, com características lúdicas, transmitidos por mitos e valores culturais, de modo a congregar o mundo material e imaterial de cada etnia. Requerem, portanto, uma aprendizagem específica de habilidades motoras, estratégias. Geralmente, os jogos são praticados nos rituais, quando são transmitidos pedidos de fertilidade, chuva, alimento, saúde, vitória, entre outros. Além disso, também têm o sentido de preparação dos jovens para a vida adulta, a socialização, a cooperação e a formação de jovens guerreiros. Os contatos com outros grupos indígenas e, sobretudo, com o mundo dos brancos produziram mudanças significativas nos jogos das sociedades indígenas. Atualmente, os jogos dos povos indígenas fazem parte da construção da cidadania e o processo de recuperação da memória histórica enriquece a diversidade cultural com a incorporação desses jogos à cultura brasileira.
Corrida de varas: Disputada entre duas equipes (casados e solteiros), que se revezam passando uma vara de bambu. Cada equipe é formada por quatro atletas que correm com a vara em círculos o número estabelecido de voltas. Aquele que chegar primeiro ao final das voltas com a vara de bambu é o vencedor. Praticada pelo povo Gavião Kiykatêjê, da Terra Mãe Maria, no Estado do Pará.
Apañara (lançamento de flecha): Trata-se de um lançamento de flecha em que o alvo é um guerreiro que tentará agarrar a flecha com as mãos. Outra variante praticada pelos Xavante é lançar a flecha na vertical, tendo que ser recolhida antes que caia no solo. É praticado para conseguir a preparação dos jovens guerreiros do povo Ashaninka, que vivem no sudoeste do Estado do Acre, fronteira com o Peru e os Gaviões Parakateyê/Kyikatêjê, da Terra Indígena Mãe Maria, no sul do Pará.
Arco e Flecha: Cada etnia participa com, no máximo, dois competidores, que podem ser homens ou mulheres, que disparam em direção a um alvo situado a 30 metros, geralmente com a forma de um peixe. A pontuação oscila entre 1 e 40 pontos, dependendo da parte do peixe que for atingida, sendo que o olho do peixe recebe a pontuação máxima. Cada participante pode fazer três disparos. Na prova eliminatória, classificam-se doze atletas para disputar a prova final. Cada arqueiro fabrica seu arco e suas flechas, que apresentam grande diversidade, conforme o grupo étnico e o uso. Não há medida padrão.
Os povos indígenas utilizavam o arco e as flechas como armas de guerra, mas, atualmente, são utilizados para a caça e a pesca, além da prática desportiva disputada entre as aldeias.
A maioria das tribos fabrica seu arco com madeira de tronco de uma palmeira chamada tucum, de cor escura, que se encontra próxima dos rios. O povo Gavião, do Pará, o confecciona com a madeira de cor vermelha, chamada aruerinha. Os povos do Xingu utilizam pau-ferro, aratazeiro, pau d ́ arco e ipê amarelo. Os índios do Alto Amazonas usam pupunha e as tribos de língua tupi utilizam madeira das palmeiras. As flechas são fabricadas de uma espécie de bambu chamada taquaral ou caninha, outras são feitas de madeira, ossos ou dentes de animais.
Arremesso de lanças: É uma modalidade masculina na qual o atleta deve atirar a lança com o objetivo de atingir a distância máxima. Todos os participantes usam as mesmas lanças. Cada um deles pode fazer três lançamentos consecutivos, dos quais é considerado apenas o melhor. A técnica de lançamento varia de uma etnia para outra. A maioria utiliza uma mão no lançamento, embora tenha também lançadores que utilizam as duas, apoiando uma delas no extremo oposto da ponta da lança. Existe uma área onde o atleta pode realizar uma carreira prévia ao lançamento. Os lançamentos fora da zona delimitada são anulados. As lanças são muito diversas com relação ao uso, às formas e aos tamanhos.
Corrida de 100 metros: É uma corrida de velocidade de 100 metros de distância. Participam dois atletas de cada etnia na categoria feminina e dois na categoria masculina. Esta corrida disputada se realiza em séries dentro do estádio.
Corrida de fundo (5km): Esta é uma prova de resistência disputada pela maioria das etnias. Não tem limite de inscrição. Organizam-se duas corridas, uma feminina e outra masculina.
Cabo de guerra ou Sogatira: Realiza-se em duas categorias: feminina e masculina. Cada equipe é formada por, no máximo, dez participantes e pode ter também dois reservas e um técnico. Os participantes se colocam em fila para agarrar a corda. Os atletas devem puxar a corda, cada equipe em sentido oposto, tentando que a equipe contrária ultrapasse a área marcada na corda. Quando a equipe ultrapassa a marca, é sinal de que perdeu a competição. Esta modalidade mede a força física e apresenta variações.
Canoagem: É uma corrida de canoas disputada nos rios, lagos ou mar. Geralmente, a distância é de cerca de 400 metros, mas pode variar. A disputa é feita em dupla e, no final, a dupla vencedora é a que ultrapassa em primeiro lugar a linha de demarcação com a ponta da proa da canoa. As canoas são comuns a todos os participantes, que devem levar os seus remos. Cada corrida produz um sorteio de canoas. Atualmente, a corrida utiliza as canoas fabricadas pelos Rikbaktsa, do Mato Grosso. A canoa ainda hoje é empregada como meio de transporte e de pesca por muitos grupos indígenas, apresentando grande diversidade. Entre os Karajá, por exemplo, as canoas são mais estreitas, porém são mais velozes.
Corrida com toras: É uma corrida entre equipes, sendo que um dos atletas de cada equipe transporta um tronco de árvore no ombro, tendo sempre a possibilidade de fazer rodízios com seus companheiros. O peso da tora varia de 70 a 100 quilos na categoria masculina e de 50 a 70 quilos na categoria feminina.
Cada equipe pode ter no máximo 15 atletas. A corrida é feita em círculos, em três voltas, e termina no centro do estádio, quando a tora é posta no chão. Recorre-se ao sorteio em caso de empate e para escolher as toras. A maioria das toras é feita com o tronco da palmeira chamada Buriti e cada grupo tem um ritual próprio para sua confecção. A corrida de toras, uma prova de força e resistência, é praticada em rituais, festas e jogos por várias etnias: os Xavante, do Mato Grosso; os Gaviões Kyikatêjê/Parakateyê, do Pará; os Xerente, do Tocantins; os Krahô, do Tocantins; os Kanela, do Mato Grosso; os Krakati, do Mato Grosso; e os Apinaje, do Tocantins.
Corrida de toras (variação) - Jamparti: Uma das variações da corrida de toras, o Jamparti é praticada pelos Gavião Kyikatêjê/Parkatejê, do Pará, com uma tora mais larga e com mais de 100 kg, confeccionado com palmeira buriti. Muitas toras são deixadas no rio para que absorvam a água e pesem ainda mais.
Futebol: O futebol, apesar de ser uma modalidade que se originou na sociedade ocidental, faz parte do contexto cultural de vários grupos indígenas, praticado por atletas masculinos e femininos. A modalidade é disputada de acordo com as regras da instrução geral dos Jogos e de acordo com o padrão da Confederação Brasileira de Futebol, excetuando o tempo do jogo que é de 40 minutos, dividido em dois tempos de 20 minutos, com um intervalo de cinco minutos. Cada equipe pode inscrever no máximo 18 atletas. Se houver empate, a decisão se fará nos pênaltis, 5 por equipe. Segundo Carlos Terena, a comunicação entre os atletas da mesma equipe é praticamente inexistente nas partidas de futebol pelo fato de não falarem a mesma língua. Por esse motivo, as reclamações são raras.
Kagót: Praticado pelo povo Xikrin, os participantes dividem-se em dois grupos com o mesmo número de participantes, que não é fixo. A modalidade inicia-se com danças e canções de ambos os grupos que se aproximam gradativamente para o enfrentamento. Durante a dança atiram flechas preparadas (sem ponta) quando se cruzam, cuja meta é atirar em algum membro da equipe adversária. Ao receber a “flechada”, o jogador avisa e a equipe adversária recebe pontos. É uma forma de confraternização entre os grupos.
Arco e Flecha (variação) - Kaipy: É uma modalidade praticada pelos arqueiros da etnia Gavião Kyikatejê/Parkatejê. Utilizam uma folha de palmeira, que se dobra e se apoia sobre duas madeiras fixas no solo. Os participantes se colocam a uma distância de 5 a 20 metros, disparam em direção à folha de palmeira, fazendo com que a ponta da flecha chegue próxima ao caule. Existe também a prática do lançamento à distância, praticado também pelas mulheres. Muitas tribos praticam exercícios de precisão, utilizando como alvo a manga, a laranja, o caule da bananeira, entre outros.
Jogo de bola (variação) - Katulaywa: Jogo de bola com os joelhos, praticado pelos grupos indígenas do Xingu
.Fonte: http://memorias.labjor.unicamp.br/arqindio/index/pr_corp_modal.htm?hcb=1
Lutas corporais: Praticadas por homens e mulheres, de vários grupos indígenas, as lutas corporais são bastante diversificadas. Fazem parte da cultura tradicional dos povos xinguanos (Kayapó e Tchukarramãe), Bakairi, Xavante, Gavião Kyikatêjê/Parakatêye e Karajá.
Huka-Huka: É uma luta tradicional dos povos indígenas do Xingu e dos índios Bakairi. Aprender a lutar huka-huka, aperfeiçoar as técnicas de lutador fazem parte da reclusão pubertária dos jovens Kamaiurá, cujo tipo ideal é a de um lutador e campeão de luta. Depois que o organizador da luta chama ao centro da arena os adversários, os lutadores se ajoelham girando em direção anti-horária diante do opositor até que se agarram tentando levantar o adversário para tirá-lo do solo.
“Huka-Huka, como chamam os Kamayurá a luta corporal, é um esporte largamente difundido no alto Xingu. Sempre que um índio jovem visita uma aldeia estranha, é convidado a lutar. Na aldeia Kamayurá os jovens lutavam quase todas as tardes, preparando-se para as lutas com grande apuro de pinturas corporais. As lutas são muito comentadas, e discutidas as possibilidades de cada lutador.” (cf.Carvalho, Lima e Galvão, 1949)
Os Karajá, do Tocantins, têm outro estilo: os atletas iniciam a luta de pé, agarrando-se pela cintura até que um consiga tirar o outro do solo. O atleta vencedor abre os braços e dança ao redor do oponente cantando e imitando uma ave. Esta luta se chama Idjassú.
Os Gavião Parakateyê, do Pará, praticam os Aipenkuit, enquanto os Tapirapé e Xavante, do Mato Grosso, realizam lutas parecidas com os Karajá, organizadas por um orientador indígena. Não existe prêmio para o vencedor da luta, mas sim o reconhecimento e respeito por parte da comunidade indígena.
Natação – Travessia: A disputa é feita em águas abertas: rios, lagos e mar. A prova, praticada por homens e mulheres, pode ser de meia distância ou de resistência. As distâncias variam de 400 a 700 metros. O estilo é livre. Cada etnia pode participar com dois atletas.
Jogo de peteca – Kopü-Kopü: Todos os participantes se colocam em círculo e, com uma peteca de folha de milho, cada um bate com a mão na peteca para que o outro (“falle”) rebata. Quando alguém erra, todos correm para derrubá-lo, demonstrando que errou.
Rokrá : Rokrá ou Rõkrã é um jogo coletivo tradicional praticado pelos Kayapó, do Pará. Duas equipes de 10 ou mais atletas se alinham no campo e, com uma espécie de bastão, os atletas rebatem uma pequena bola para o adversário. Quando a bola ultrapassa a linha de fundo da outra equipe, marca-se um ponto. De acordo com as informações dos Kayapó, esta modalidade deixou de ser praticada pela violência que causava grandes contusões aos competidores.
Tihimore: Esta é uma modalidade disputada apenas por mulheres, geralmente jovens e adolescentes, entre clãs ou famílias do povo Pareci. Semelhante ao jogo de boliche, é realizada em festas e rituais de iniciação e nominação, quando as crianças recebem nomes próprios. A disputa ocorre em um campo de 10 metros de largura por um metro de comprimento, com paus de madeira fixados no solo nas duas extremidades, onde se colocam as espigas de milho. O jogo é disputado com duas bolas de marmelo verde e o objetivo é tirar o milho das adversárias que estão nos últimos paus. É jogado com quatro atletas de cada lado e não tem juiz, apenas um observador de cada lado adversário, que tem a função de verificar se houve toque e a pontuação.
Jogo de bola com a cabeça – Zikunariti e Hiara: Denominado Zikunariti, na língua dos Paresi, e Hiara, na língua dos Enawenê Nawê, esta modalidade é parecida com o jogo de futebol, mas, ao invés de chutar com os pés, as equipes devem cabecear a bola. Trata-se de um esporte exclusivamente masculino, praticado tradicionalmente pelos Paresi, do Mato Grosso. O jogo é disputado por duas equipes, com dois atletas em cada uma delas. A partida se realiza em um campo de terra batida para que a bola ganhe impulso, com uma linha no centro que delimita o espaço de cada equipe. A partida começa com atletas veteranos, que se dirigem para o centro do campo e decidem quem vai começar a lançar a bola para o outro, que devolverá a cabeçada.
Zarabatana: Modalidade que implica arremesso de dardos com zarabatanas, praticada pelos Matis e Kokama, originários do Amazonas. Geralmente, as zarabatanas são armas utilizadas contra alvos móveis, como pássaros ou macacos. No entanto, nos Jogos Indígenas, o alvo – uma melancia pendurada em um tripé a uma distância de 20 ou 30 metros - foi adaptado às condições do local. A zarabatana é uma arma artesanal, feita de madeira, de cerca de 2,5 de comprimento, onde se coloca uma pequena flecha de aproximadamente 15 cm. Por ser silenciosa e precisa, a zarabatana é muito utilizada pelos índios amazônicos para caçar aves e animais. Os Matis habitam na região do Vale de Javari, fronteira com o Peru e Colômbia, no estado do Amazonas. Levam cerca de quatro dias para chegar à cidade mais próxima, Tabatinga, no Amazonas. São conhecidos como “cara de felino”, por usar adornos faciais inspirados nesse animal. Desde os Segundo Jogos Indígenas, os Matis participam desta modalidade, com cinco atletas.
Fonte: www.coeducufmt.org
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